Fios d´Água: Burburinhos ás margens do Rio Doce

Esta tese analisa as percepções de estudantes de Governador Valadares sobre o Rio Doce e o desastre socioambiental provocado pelo rompimento da Barragem de Fundão, problematizando a permanência material e simbólica do referido desastre ao longo do tempo. A pesquisa de caráter interdisciplinar possui abordagem qualitativa e teórico-empírica. A interlocução entre História Oral e História Ambiental, aliadas aos estudos territoriais, permite analisar a influência que os lugares têm sobre a memória e as narrativas. O universo da pesquisa compreende 20 estudantes matriculados nos anos de 2020 e 2021 em qualquer ano do Ensino Médio de escolas da rede particular e pública de ensino de Governador Valadares. O estudo foi realizado através de entrevistas semiestruturadas com os participantes da pesquisa. Diante do contexto de distanciamento social provocado pela Pandemia da COVID-19 todos os contatos e entrevistas foram realizados de forma remota, utilizando-se ferramentas e plataformas digitais como WhatsApp e Google Meet. Os resultados evidenciam que embora pertencentes a contextos sociais diferentes os entrevistados convergem em suas compreensões sobre o Rio Doce que em geral é percebido como sujo de lama, mal-cheiroso e contaminado. Em suas memórias os estudantes atribuem ao rio sentimentos de tristeza, medo, insegurança e desesperança. A preocupação com a qualidade da água é tida pelos estudantes como o principal impacto do desastre, tendo os afetado de forma econômica, social, física e emocional. O grupo se divide em relação ao futuro do Rio Doce, parte dos entrevistados acredita em sua melhora a longo prazo, no entanto, a maioria afirma que ele permanecerá nas mesmas condições em que se encontra nos dias atuais: poluído, assoreado e com as águas contaminadas. Impera no grupo pesquisado o sentimento de desesperança, o que reforça a permanência dos impactos imateriais causados pelo desastre.